Depois de amputação de braços e pernas, Pedro Pimenta lança livro de superação

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Pedro Pimenta era saudável, estudioso, esportista e baladeiro, como todo adolescente de 18 anos. Em 2009 ele foi internado e diagnosticado com meningococcemia – infecção generalizada causada por uma bactéria. Os médicos deram 1% de chance de sobreviver. Pedro conseguiu, mas amputou os quatro membros – os braços, acima do cotovelo, e as pernas acima do joelho. Dez meses depois nunca mais sentou numa cadeira de rodas, mora sozinho na Flórida, Estados Unidos, onde faz faculdade de economia, e acaba de lançar o livro Superar é Viver (Leya). “Essa bactéria não é rara e nosso corpo a elimina, mas o meu sistema imunológico estava muito baixo”, explica Pedro. No hospital, ele ficou em coma induzido por uma semana e, quando acordou ouviu e viu a notícia. “Quando abri os olhos meus braços e pernas estavam gangrenados. Num dia sou um cara de 1,80 metros, no outro meus membros estavam apodrecidos. Foi um choque”, afirma ele, que teve que fazer enxertos tirando pele da barriga e colocando nas pernas. Mas nada desanimou o rapaz. “Quando acordei do segundo coma perguntei sobre o show do AC/DC que teria em São Paulo. Minha família já tinha comprado ingressos duas semanas antes. Consegui a liberação do meu médico para ir de ambulância e voltar imediatamente – isso dois meses depois da cirurgia. Isso me deu mais energia para suportar o resto”, diz Pedro.

“Fui condenado a uma vida na cadeira de rodas, sem ter independência. Uma das coisas que me ajudou muito foi estudar música eletrônica no hospital no computador – eu conseguia mexer com os restos dos braços. Até ganhei um concurso internacional de remixes. Por isso não tive depressão, porque tracei metas para manter minha cabeça distraída”. Sua ‘nova vida’ com próteses começou em 2010, seis meses depois de sair da internação. “Comecei a assistir à vídeos de amputados que andavam uma barbaridade. No fim, sempre via a logotipo de uma empresa – poxa, eu sou um baita cliente para uma empresa de próteses. Conheci o vice-presidente da empresa e comecei a fazer um tratamento em Oklahoma (EUA), para ex-soldados feridos do Iraque e Afeganistão que viviam sem cadeira de rodas. Ele me disse: ‘você tem que se adaptar o mundo e não o contrário’. Isso mudou minha vida. Foi um treinamento bruto e saí de lá muito mais forte. Desde dezembro de 2010 não uso mais cadeira de rodas. Se você quer chegar a esse nível tem que ser uma pessoa regrada, porque gastamos cinco vezes mais energia do que uma pessoa normal para andar”, diz ele.

Quando entrava num restaurante ou lugares públicos fazendo tudo sozinho, as pessoas olhavam para Pedro com ar de admiração e foi assim que começou a receber convites para dar palestras. Em 2012 se mudou para a Flórida para fazer faculdade de economia, conseguiu uma namorada, dirige carro sem adaptação, escova os dentes, faz sua própria comida, enfim, vive uma vida normal. “No início eu colocava minhas próteses em 40 minutos, hoje consigo em cinco minutos. Cheguei num nível de independência que não poderia imaginar”, diz ele, que vê mais problema em subir escadas e não em encontrar namoradas. “Arrumei uma namorada muito rápido e isso é como você se enxerga, tendo ou não mãos e pernas”, afirma. O que mais mudou dentro de você? “Hoje sou um cara mais atento às dificuldades alheias, ao sofrimento do outro. Quero fazer algo filantrópico porque tenho muito prazer quando sirvo de mentor a outro amputado. Isso para mim é uma missão de vida, servir de exemplo positivo para as pessoas. Na minha casa não tem nada adaptado, lavo, cozinho, limpo a casa e, em vez de ficar desesperado e mandar tudo para o inferno, quebrei tudo em desafios pequenos. Uso a mentalidade para me considerar um cara normal e dizer não às adaptações. Nunca fiz terapia na vida. Sou muito teimoso, mas acredito que quem resolve meus problemas sou eu mesmo”, diz.

Trechos do livro:

“Neste livro vou contar minha história de vida: como um garoto paulista de classe média, que como tantos outros ainda não tinha definido que carreira seguir, sofreu uma terrível fatalidade, aprendeu a encarar as consequências e se tornou um homem que supera suas dificuldades com determinação e trabalho duro. Mas não se engane: apesar do curto espaço de tempo — pouco mais de quatro anos — esse foi um processo árduo repleto de momentos de medo, insegurança e muita dor. Encaro meus braços e pernas como ferramentas que perdi. Elas foram substituídas por outras que não funcionam tão bem, mas que me possibilitam fazer quase tudo que fazia antes. De modo diferente, mas que de forma alguma condicionam a minha felicidade”.

“Não há nada mais compensador que testemunhar a transformação das personalidades ao fim do trabalho, saber como fui importante para mudar suas mentalidades. Minha vida é uma luta diária, acompanhada sempre pela dor. Não mato um leão, mas um zoológico por dia. Em vez de me entregar à tristeza, penso em como posso dedicar ainda mais tempo e esforço para avançar com meus projetos e planos”. FONTE – COLUNA BRUNO ASTUTO – REVISTA ÉPOCA

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