O badalado chef de cozinha Claude Troisgros passou pela Paraíba para gravar um de seus quadros pra televisão – program da GNT, na cidade de Gurinhém – terra do paraibano Batista – braço direito do Claude há mais de 30 anos. E o chef Genaldo cardoso Foi acompanhar de perto as gravações!
Quem é Batista?
Braço direito do chef de cozinha Claude Troisgros, do restaurante Olympe, João Batista Barbosa de Souza, de 48 anos, o Batista, é um sous-chef apaixonado pelo que faz. Acostumado com ambientes sofisticados, ele é uma pessoa simples e de poucas palavras. Morador da Rocinha há 29 anos, o homem de confiança de Claude diz que mora na comunidade por opção. Gosta de andar de bermuda, chinelos, beber cerveja e bater papo com os amigos nas suas horas vagas. Além de eventos por todo país ao lado do chef de cozinha francês, Batista participa do programa de culinária ‘Que Marravilha’, da GNT.
A trajetória de paixão pela culinária de Batista começou ainda na infância. Segundo filho de uma família de 10 irmãos, ele ajudava a mãe em João Pessoa, na Paraíba, em um restaurante caseiro para caminhoneiros. Lá, aos nove anos, descascava cebola, alho, limpava frango, peru, cabrito e ainda cozinhava arroz, macarrão e farofa. Ele também lembra que “era bom” nos temperos das carnes.
— Acho que tenho o dom da cozinha. Minha mãe sempre dizia isso. Naquela época, ainda mais no Nordeste, não era costume homem cozinhar. Isso era uma tarefa para mulher — lembra Batista que, além de ajudar a mãe na cozinha, trabalhava na roça com o avô e gostava de andar a cavalo.
O primeiro contato de Batista com Rio foi aos 16 anos. Ele veio à cidade visitar os tios com a avó. Menos de um ano depois, decidiu que moraria na cidade que o encantou pelo clima e pelas mulheres. Batista chegou da Paraíba e foi morar na Rocinha, em 1984. Viveu em um barraco de tábua, trabalhou como estoquista e como ajudante de pedreiro. Pouco tempo depois, através de um tio, ficou sabendo de uma vaga de ajudante de cozinha no restaurante de Claude.
— Simpatizei com Batista de imediato e ele começou no dia seguinte a trabalhar como ajudante para lavar louça. E lá se vão 30 anos — lembra Claude, que não poupa elogios ao seu fiel escudeiro: — Ele tem uma sensibilidade que é fundamental para um cozinheiro. Notei logo nos primeiros dias de trabalho. É uma pessoa de minha confiança, meu braço direito.
No Claude Troisgros, Batista passou por todas os setores do restaurante. Primeiro foi responsável pelas entradas, depois pelos peixes, pelas carnes até chegar a confeiteiro e virar sous-chef. Em paralelo, participou de dezenas de eventos ao lado de Claude. Neles, chegou a tirar fotos ao lado dos presidentes Lula, Fernando Henrique, Dilma Rousseff e até com o ex-presidente americano Bill Clinton.
— A técnica que adquiri no decorrer dos anos valeu mais que uma faculdade — conta Batista, que cursou até o antigo primeiro grau.
Pai de quatro filhos, três deles fruto de um casamento de 17 anos e o quarto de um relacionamento sem papel passado, Batista gosta de morar na Rocinha, onde vive numa casa de dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Bastante conhecido na comunidade, ele frequenta bares, restaurantes, compra frangos no abatedouro, corta o cabelo e faz receitas com produtos nordestinos comprados na favela.
— Moro na Rocinha por opção. Fiz muitos amigos e criei os meus filhos sem problemas aqui. Quando saio da rotina de trabalho, me sinto à vontade nesse ambiente — explica o paraibano que faz questão de frisar: — Ser popular e aparecer na televisão não me subiu à cabeça. Não fico me gabando.
O Bar do Adão é um dos lugares preferidos de Batista. Nos finais de semana, ele frequenta o local. Algumas vezes, Batista cozinha para os amigos o seu prato preferido, galinha velha com quiabo. Para tirar a baba, o sous-chef revela o seu segredo: deixa o quiabo de molho no sal grosso e vinagre.
— O Batista é uma excelente pessoa. Ele trabalha com etiqueta, mas com os amigos não tem etiqueta — brinca o amigo dono do bar, Adão Bie Viana, de 59.
Reproduzindo o sotaque francês do chef Claude, Batista lembra como é chamado por ele: “Batiston”. Essa é uma das poucas vezes que, durante uma longa conversa, o tímido sous-chef faz uma brincadeira. Ele entrega, porém, já ter passado por muitas histórias com Claude. Em uma delas, eles entraram de penetra numa festa de casamento e dormiram juntos na mesma cama (um de cabeça para baixo e o outro para cima).
— O Claude é meu grande amigo. Uma pessoa que tem todo meu respeito. É como se fosse um pai para mim — reflete.
Para o futuro breve, que deve ocorrer nos próximos quatro anos, Batista quer voltar para Paraíba e montar o seu próprio restaurante. No cardápio do estabelecimento, estarão algumas das cerca de 80 receitas criadas por ele e por sua família.
— Trabalho com aquilo que gosto. E a cada dia que passa vou aprendendo um pouco mais. E sou feliz por ter encontrado a pessoa certa para trabalhar. Cozinhar é meu hobby — resume Batista, orgulhoso.
Matéria/reprodução publicada no Jornal O GLOBO!