Filme ‘Aos teus olhos’ estreia dia 12, e mostra como internet cria boato e o torna letal em 24 horas

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Aos teus olhos”, filme de Carolina Jabor com estreia nesta quinta-feira (12), deve ser beneficiado pelo momento oportuno. Só se fala no perigoso poder da internet de espalhar boatos na velocidade de curtidas no Facebook.

A história contada pela diretora de “Boa sorte” trata do tema em uma perspectiva pessoal. Rubens (Daniel de Oliveira) é um professor de natação que vê sua vida mudar ao ser acusado pela mãe de um dos alunos de beijar a criança na boca.

Menos de 24 horas separam o momento da publicação da história nas redes sociais das primeiras consequências físicas da denúncia.

No centro da trama, o problema do linchamento virtual é retratado de forma humana. Embora nem sempre consiga, o roteiro de Lucas Paraizo evita colocar o protagonista na posição de vítima injustiçada e vilanizar os pais do garoto, vividos por Stella Rabello e Marco Ricca.

É do espectador a tarefa de decidir se Rubens é culpado ou inocente. Como nas redes sociais, só é possível ver uma imagem superficial do personagem. Isso inclui comentários que dão pistas de um comportamento questionável.

Tudo o que diz respeito ao que realmente aconteceu entre professor e aluno é turvo na história, como nos quadros de imagens vagas vistas através da água de uma piscina, uma metáfora usada à exaustão.

Os envolvidos no caso dão relatos vazios. Rubens não consegue se defender e a criança nunca é ouvida. A fragilidade do paralelo com a investigação real de um caso de abuso sexual infantil incomoda, mas parece proposital.

Tudo é estrategicamente posicionado para deixar o público perdido, como Ana (Malu Galli), diretora da escola de natação, que não sabe de qual lado ficar.

Muito mais do que decretar quem está certo, importa para a história os efeitos da decisão de expor uma situação sem conhecê-la a fundo, e o julgamento precipitado que isso pode gerar.

Casos assim existem desde sempre – impossível não lembrar da Escola Base, em São Paulo, cujos funcionários foram acusados de abuso sexual contra crianças, sem provas.

Mas o tema não poderia ser mais contemporâneo, num contexto em que informações nebulosas deixam, cada vez mais, de ser exceção no emaranhado confuso de dados da internet.

“Aos teus olhos” acerta ao abrir mão da atemporalidade para trazer a discussão à realidade caótica e fragmentada de 2018. Seu maior trunfo é mostrar que, nestes tempos, ninguém está livre de virar um Rubens.

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